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Uma Razão para Treinar - Prof. Marcus Vinícius Ferreira


  Eisley teve a oportunidade de ser um escritor privilegiado. Por ser ao mesmo tempo cientista e poeta, seu ponto de vista permitia abranger o melhor de dois mundos.

  É dele uma passagem que conta sobre um outro escritor - muito parecido com o próprio Eisley - que costumava caminhar todas as manhãs pela praia antes de ir trabalhar. Numa dessas manhãs, o escritor vê ao longe uma figura que parece dançar pela areia. Um pouco mais próximo, ele percebe que a figura na verdade é um rapaz que apanha estrelas-do-mar, corre até a beira da água e as arremessade volta ao mar. Intrigado pelo porquê disso, o escritor pergunta ao rapaz: "O que você está fazendo? ". O rapaz, sorridente, responde: "A maré está abaixando, em breve o sol estará forte demais e estou tentando salvar algumas estrelas-do-mar". "Mas a praia tem milhas de extensão! Não fará diferença quantas você salvar ou não." diz o escritor. O rapaz pensa um pouco, abaixa-se para pegar mais uma estrela e, correndo, a joga para além da arrebentação das ondas. Ele volta ao escritor e responde: "Faz diferença para aquela estrela..."

  O escritor fica impressionado com a resposta do rapaz. Durante todo o dia e a noite que se seguem ele não consegue trabalhar pensando naquelas palavras. Na outra manhã, ele volta à praia e reencontra o mesmo rapaz, ainda tentando salvar as estrelas. Só então ele percebe: sendo a praia grande ou não, o rapaz se recusa a ser apenas um observador - ele age, sem pensar no peso das proporções. Um sorriso aparece nos lábios do escritor e ele se junta ao rapaz, ajudando a jogar estrelas de volta ao mar.

  O tempo passa e às vezes nos perguntamos o porquê de ainda treinarmos Aikido. Algumas justificativas vêm e vão, mudando segundo muda a nossa vivência no tatami. Outras vezes não conseguimos encontrar justificativa alguma - as razões parecer ter perdido um pouco de sua força e procuramos por novas.

  Independente disso, ainda assim continuamos a treinar. Para aqueles que estão nesse hiato, eu trago uma justificativa comum a todas as nossas razões (que já foram ou ainda serão nossas): treinamos porque nos recusamos a apenas ficar observando a vida passar, treinamos pelo simples prazer de poder agir, treinamos porque cada estrela faz diferença.

FEPAI - Federação Paulista de Aikido - 2008 - Designer: kátia numakura